sábado, 28 de maio de 2011

Segredo

 Por que foges assim? 
Ouço a voz que se cala,
Perdida entre milhares 
Daquelas que gritam.

Ciranda de dores
Cantos de amor;
Solitária és tu
Que o doce amargou.

Por que choras assim?
Salgadas elas descem
Passeiam em tua face,
Enquanto o amor cresce.

Apertado, esmagado
Estás por dentro escondido
Tal sentimento negado
Aos próprios ouvidos.

Por que mentes pra si?
Sufoca-se em desespero
Tentativas falhas,
Guardadas em segredo.
És tu só medo?

Postado originalmente no blog: O Silêncio de um Grito. No dia 03/03/2011.

Não são essas minhas primeiras palavras, não foram essas as últimas, mas são únicas e tão mutáveis. São as mesmas de sempre, mas são tão diferentes. São escritas pela mesma mão, mas por pessoas distintas. Todas por mim, algumas sem mim. E que vocês não procurem entendê-las... 
Abreijos!     

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Igualdade


A cada canto da senzala

Que eu ia
O negro sofria, chorava e pedia:
Liberdade! Liberdade!
Hoje a cada canto, a cada cidade
Já não pedem liberdade
Choram e até mesmo imploram:
Igualdade! Igualdade!

Se perante o Deus somos seres iguais,
Por que diante dos homens somos
Criaturas banais?

VENTRE LIVRE, SEXAGENÁRIO
Leis que aos senhores ajudaram
Mas os negros,
Não os libertaram.

Eu princesa ISABEL
Como abolicionista
Assino a Lei Áurea
Para fazer JUSTIÇA.




Esse poema, eu contei com a ajuda de uma grande amiga Eityane. O poema foi declamado numa apresentação para a feira de conhecimento no CELEM (Colégio Estadual Luis Eduardo Magalhães). E como estamos no mês da Libertação Dos Escravos, façamos desde já nossas humildes homenagens.                               

terça-feira, 17 de maio de 2011

Metade.


   Não podia! Seria sempre metade de si mesma no espelho. Reflexo torto, inacabado. Havia se entregado demais as pessoas. Havia confiado nelas. Doou-se por inteira e agora é só metade. Metade medo... Metade coragem. Metade alguém. Doou-se tanto ao ponto de ser roubada. Não quiseram devolver a parte doada. Sequestraram sua confiança. Seus sonhos. Deixaram com ela uma realidade. E ela é metade.
   Deixou-se ir... Alma pouco a pouco sendo levada. Ela permitiu um espelho rachado, um coração defasado, um sonho desfeito. Fez-se metade. E chorava... Lágrimas de partes roubadas. Infinitas perguntas acumuladas. Hoje respondidas pela metade.  
   Desfeita. Perdeu-se em suas partes mal feitas. Num lago fundo da futilidade. Perdeu essência, trocou comandos, esqueceu verdades. Ela se fez dúvidas. E caminhou num labirinto de mentiras e vestiu-se delas. E se refez... Mesmo que só metade.
   Armou-se. Vestida de armadura de aço. Espada na mão, coração bem guardado. Subiu num dragão e se fez fogo. Ardente em brasa quente. Misturou-se no âmago da dor. E fez, roubou, gritou. Agora rouba metades, mas as quer como um todo. Metades desfeitas são deficientes a elas mesmas. E como metade, se fez por inteira.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Voz Dizente

Ouço a voz, ela me chama baixinho, como um sussurro.
Já há algum tempo sou surdo, mas, a voz persistente, me chama, agora em tom suave.
 Pensava estar fora de si e a voz me chamava, mais forte agora, minha surdez desaparecia.
A voz agora grita e seu grito escorre entre as curvas da minha orelha, dizia a voz em tom alto e romântico: Te amo.
Eu não à amava, por isso não à ouvia, mas, agora seus dizeres me entorpecia, já não estava mais sóbrio, quando a percebi eu à amava e a voz já cansada de falar calava-se.
Então pedi para estarmos juntos, eu à seus dizeres e a voz à meus prazeres.
Nossas conversas então começavam como sussurros, logo após, tom suave, então, mais forte, e depois em gritos, e neles nós vivíamos e amávamos e a paixão era dizente.


Também postado no blog: www.urbandept.blogspot.com

terça-feira, 10 de maio de 2011

Encontro

Às vezes, o outro lado da rua
me olha e sorri.

Quando não há rua.
*
*
*
*

sábado, 7 de maio de 2011

;

                     Fogão  de  Lenha.
   Querida mamãe,

   Liguei ontem para seu celular inúmeras vezes até cair na caixa, queria te dar a notícia que te deixaria imensamente feliz. Eu fiquei horas imaginando seu rostinho de felicidade, seu sorriso que já formavam as indesejadas rugas.  Imaginei suas lágrimas de felicidade a cair juntamente com as minhas, que já começaram de hoje. Fiquei imaginando como seria forte nosso abraço de reencontro, depois de tantos anos. Cheguei a sentir o cheiro do velho fogão de lenha. Esse que mesmo depois de anos, a senhora não consegue abrir mão.
   Pois é mamãe, deixei para te fazer uma surpresa, já que seu celular estava desligado ou fora de área. Agora me arrependo amargamente de não ter tentado outras inúmeras vezes. Estou do outro lado do mundo. Meu dia é sua noite, minha noite é seu dia. Mas meu coração ainda possui aquele cordão umbilical com o seu.  
   Acordei tão feliz hoje, mal conseguia respirar quando pensava em te ver depois desses quatro anos de distância. Sabe mamãe, ela às vezes assusta. E por falar em falta de ar, perdi o meu por alguns minutos. Dessa vez não foi de saudade, quisera eu que fosse, estaria prestes a acabar com ela. Eu estaria sentindo aquele seu abraço agora. Talvez eu não o sinta mais.
   Estava saindo de casa, à caminho do aeroporto, sorriso estampado no rosto foi se encolhendo aos poucos quando a terra tremeu embaixo de meus pés. De início achei ser mais um terremoto comum, logo iria passar e eu continuaria andando. Andando em sua direção, ao seu encontro. Mas ele ficou mais forte, parecia que a terra fosse se abrir diante de mim mamãe. E eu chamei por você, mesmo sabendo que a senhora não poderia me socorrer. Imaginei se seu coração não tinha ficado apertado, como nas novelas, pois nesse momento mamãe, uma imensa onda vinha em minha direção, devastadora, cruel. Trazia consigo tudo o que encontrava pela frente, me levaria também mamãe. Corri com todas as forças que eu tive.
   Crianças choravam, estavam todos desesperados. Eu pensei em mil coisas enquanto corria. Obriguei-me a me manter correndo, a onda era mais rápida. Ela me pegou com força mamãe. Aquele baque contra mim me fez lembrar por uma última vez antes de apagar o seu rosto. E eu chorava, mas a água não deixava minhas lágrimas visíveis. Quem as veria naquele instante?
   Acordei presa nos escombros de algo que eu não sei identificar.  Tudo é muito escuro aqui mamãe, e eu sinto muito medo. Minha bolsa estava grudada em meu braço, a apertei com força na hora do desespero, e ela continuou presa a mim. Eu deveria estar morta agora. Não me pergunte como vim parar aqui e muito menos onde é aqui. Apenas uma brecha de luz onde encosto esses papéis úmidos de meu diário, que por sorte se mantinha naquela caixa de ferro que a senhora me deu, para tentar escrever essas palavras, que espero de coração que não esteja lendo. Isso significaria que eu mesma não pude pronunciá-las. Isso significaria que eu não poderia ter te abraçado.
   Minha cabeça gira, minhas pernas doem como se um trator as estivesse esmagado. A respiração é ácida, doe até escrever, mas isso eu faço por que preciso que saiba que era para eu estar aí, ao seu lado. Comendo o feijão do velho fogão de lenha.
   Caso esteja lendo essas palavras, sua filha estará agora em um lugar desconhecido por todos nós. Sua filha será considerada mais uma vítima da catástrofe do Japão. Eu serei uma vítima do grito de retorno da natureza, esse que mesmo silencioso causa a dor que agora eu sinto, e que a senhora pode estar sentindo ao ler essas palavras também. Talvez essa seja a hora de cortar o cordão umbilical.
   Mas, saiba que sempre senti falta do cheiro de seu feijão, de suas reclamações, de seu sorriso, do cheiro de alfazema que a senhora emanava pela sala, do café quentinho toda tarde, das cantigas que a senhora sempre cantarolava ao fazer o almoço. Sentirei falta do abraço que não pude ter. Por que te amo mamãe, desde quando eu era apenas um serzinho em sua barriga, tão aconchegante.
   Se estiver lendo essas palavras, me perdoe pelos netinhos que não pude dar, pelos abraços que não foram concretizados nesses quatro anos, por não ter ficado aí, junto ao fogão de lenha e ao bule de café. Mãe eu estava levando um perfume de alfazema comigo, e agora eu o passo em mim, porque se for pra partir, que seja com o seu cheiro.
   Sentirei falta dos pãezinhos de queijo. Te amo muito mamãe, e isso nunca morrerá.

De sua filha querida.


Postado originalmente no blog: O Silêncio de um Grito

Inspirada em: Fogão de Lenha- Pe. fábio de Melo.

Confesso estar entre as lágrimas agora. Não sei você caro leitor, mas só de imaginar em perder minha mãe, faz meu coração inundar-se profundamente em desespero.Beijos e doces.


terça-feira, 3 de maio de 2011

_

Chamaram-me
 
 

   Chamaram-me de criança e eu brinquei. Naquele instante o mundo poderia acabar, pois eu estaria completa.
   Chamaram-me de insana e eu perdi a sensatez. Naquele instante o mundo poderia acabar, pois não existiria uma razão que me fizesse acreditar que viver é bom.
   Chamaram-me de contradição e eu impus avessos, palavras distintas. Naquele instante o mundo poderia acabar, pois não há vida sem morte.
   Chamaram-me de duas caras e eu usei máscaras. Naquele instante o mundo poderia acabar, pois uma de minhas faces sobreviveria.
   Chamaram-me de meu amor e eu acreditei. Naquele instante o mundo poderia acabar, pois um coração já havia se afogado na desilusão.
   Chamaram-me de agressiva, egoísta e eu bati, recusei. Naquele instante o mundo poderia acabar, pois uma alma já foi distorcida.
   Chamaram-me de Poeta e eu escrevi, brinquei, enlouqueci, caí em contradição, usei máscaras, amei, bati. Naquele instante o mundo não poderia acabar, pois eu já havia construído outro.

domingo, 1 de maio de 2011

                                   Divinidiabolizando- se.                           


                                                                             

O mundo caindo... e não sinto medo.
 Sombras comungando com fagulhas de luz
É só reflexo de uma vida que  lancei  ao esquecimento. 
Dentro de mim, Deus chora meus demônios.
A sucessão de delitos faz fechar os portões dos céus
Mas, dei amor a gente...também  o recebi de toda gente.
Não padecerei pois, pelo crime de não ter amado e sido amado.
Estou caindo... e não há anjos para amortecer minha queda.
 Por ora, fico esperando o fim de um novo começo...
Com mesma letargia de moribundo feliz por estar morrendo
Espero o mundo cair definitivamente,
Com alma em prisma ... tudo é tão transparente
Que já não posso reclamar da escuridão de outrora
Caia mundo! Porque meu universo particular espera ser construído.
A razão abandonou-me  quando ainda chovia esperança
Ao passo que se me faltassem olhos, diria eu, estar no paraíso.
Estou caindo...e não há anjos para amortecer minha queda.
Ensinaram-me incontáveis fórmulas de como se  viver bem.
Entendi tempos depois, jamais haver receita pra felicidade
Por isso, o mundo precisa cair, definitivamente ,ele precisa!
Nada restará de mim ... muito pouco  restará dele, mas ainda estarei respirando.
Caia mundo! Porque meu universo particular precisa ser construído.
 Vejo os três braços da epifania de meus dias abraçando toda uma vida de mortes,
 Noto que escolhi, não por vontade, "viver morrendo" perpetuamente.

O mundo caindo...e não sinto medo.



O conteúdo desse blog é protegido!

myfreecopyright.com registered & protected _ Todos os direitos autorais desse blog está protegido sobre a lei nº 9.610/1998. Por isso, se faz necessário a permissão do autor para publicar qualquer tipo de texto/documento em outro site ou blog. Os casos de plágio serão denunciados. A equipe Vinte e duas Letras agredece desde já a compreensão e consciência de todos.